Mundo do trabalho no pós-pandemia é debatido no terceiro dia da Reditec 2020
Especialistas discutem sobre tendências aceleradas este ano e o papel da Rede Federal na formação de profissionais preparados para enfrentar os novos contextos.
O mundo do trabalho no pós-pandemia foi o debate central do terceiro dia da Reditec 2020. A mesa-redonda sobre gestão e trabalho trouxe as visões de alguns especialistas sobre as transformações intensificadas nos últimos meses e sobre o papel da Rede Federal na formação de profissionais em um contexto de avanços tecnológicos, como a automatização proposta pela Internet das Coisas (IoT), a Indústria 4.0 e a Inteligência artificial.
As discussões foram mediadas pelo reitor do Instituto Federal do Pará (IFPA), Claudio Alex da Rocha. O tema foi abordado a partir de perspectivas apresentadas por Gleisson Rubin, da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital; Peter Dostler, diretor executivo da STEINBEIS-SIBE do Brasil; e Luzia Mota, reitora do Instituto Federal da Bahia (IFBA). A mesa-redonda contou a exibição de um vídeo da Orquestra de Violões do Colégio Pedro II (Campus Realengo II).
Gleisson Rubin iniciou as discussões com dados sobre a substituição do trabalho humano a partir do desenvolvimento de tecnologias que automatizam processos, em todas as áreas, inclusive no serviço público. Falou também sobre a tendência de os novos profissionais necessitarem trocar de profissão algumas vezes durante a sua carreira para acompanhar as transformações do mundo do trabalho.
Para o especialista, a pergunta a ser feita é: qual é o perfil do novo profissional? "Precisamos fomentar esse debate. Infelizmente o processo de automação tem o efeito deletério de retirar postos de trabalho e a pandemia acelerou muito esse processo. É a qualificação dos profissionais que vai equilibrar essa balança. Haverá ainda uma corrida por requalificação. A Rede Federal precisa estar preparada para receber essas pessoas", afirmou Rubin.
O diretor executivo da STEINBEIS-SIBE do Brasil, Peter Dostler, falou sobre como as grandes crises afetam a sociedade. Para Peter, o que se está vivendo hoje terá reflexos por 20 anos e é impossível ter certezas sobre a dimensão dessas consequências. "Mas nada será como antes e não se trata de aceitar ou não, mas de tentar entender e aprofundar sobre como responder a essas mudanças. A Rede Federal também é responsável por conduzir essa transformação com o seu público", disse.
Para o gestor, a Rede Federal precisa investir em inovação por meio dos Polos de Inovação e das Incubadoras. "Ter foco em novos modelos de ensino, nos processos, em propostas cada vez mais inclusivas e acessíveis. Além disso, é muito importante desenvolver uma nova cultura nas instituições, para estarem aptas aos tempos de mudança. Outra ideia é se aproximar mais das universidades para formar uma rede ainda mais forte", afirmou.
Já Luzia Mota, reitora do IFBA, apresentou alguns contrapontos a partir da perspectiva da classe trabalhadora. "Antes o jovem sonhava com um emprego, com a estabilidade. Hoje o emprego sumiu, vemos um processo de flexibilização, terceirização e precarização das relações de trabalho. E nesse contexto surge a ideologia do empreendedorismo, ou seja, o reforço da ideia de que isso é a solução para toda a crise. Não é verdade. Há muitos contextos e complexidades envolvidos", declarou.
A reitora destacou a vulnerabilidade de mulheres e homens negros da periferia que estão trabalhando por meio de aplicativos sem garantias ou segurança, em péssimas condições, durante a pandemia. "Como Rede Federal precisamos pensar, conhecer e agir sobre essa realidade. Precisamos levar ainda mais os valores de justiça, democracia, vivência comunitária e criatividade para a nossa formação. Precisamos também de políticas públicas contra o racismo estrutural e para a promoção da igualdade de gênero", defendeu. Luzia Mota afirmou que a incorporação dos avanços tecnológicos ao mundo do trabalho é imprescindível, mas sustentou que esse processo precisa ser feito levando sempre em consideração aspectos sociais e humanos, para que evitar o agravamento dos efeitos da precarização do trabalho.
No momento das perguntas, os especialistas foram unânimes ao afirmar que não há respostas precisas sobre os diversos questionamentos apresentados. É consenso também que as mudanças geram ansiedade, mas que a elevada qualificação continuará fazendo diferença no mundo pós-pandemia.
Texto: Bia Toso (Ifes)
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