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Alunos do Ifes acompanham a chegada da lama ao Espírito Santo

Publicado: Terça, 17 de Novembro de 2015, 12h20 | Última atualização em Terça, 19 de Janeiro de 2016, 12h14

Os estudantes puderam coletar amostras da água contaminada nos municípios mineiros de Resplendor e Aimorés. Já no Espírito Santo houve coleta em Baixo Guandu e Colatina. 

Cerca de 40 alunos do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental do Campus Vitória, do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), presenciaram nesta segunda-feira (16) a chegada da onda de lama e rejeitos de mineração da barragem de Mariana (MG) ao município de Baixo Guandu, o primeiro do Estado a ser atingido. Os estudantes puderam coletar amostras da água contaminada nos municípios mineiros de Resplendor e Aimorés. Já no Espírito Santo houve coleta em Baixo Guandu e Colatina.

As atividades fizeram parte da Expedição ao Rio Doce, uma aula de campo promovida por uma equipe multidisciplinar de professores do Ifes, que também contou com o apoio de uma professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Entre os objetivos da aula estavam conhecer a realidade socioambiental das comunidades atingidas e viver a experiência de um desastre ambiental, coletando amostras da água e sedimentos.

Além da coleta de água os estudantes também realizaram pesquisas com moradores, a fim de captar a percepção da população sobre o desastre ambiental. Depois de passarem pela experiência, os estudantes terão agora que propor ações ambientais com o objetivo de mitigar os impactos. Todos os dados coletados e as análises feitas farão parte de um seminário promovido pelo curso de Engenharia Sanitária e Ambiental, que será aberto ao público.

“A expectativa é que essas informações que coletamos sejam a base para a criação de um grande projeto de pesquisa interdisciplinar. Hoje viemos tomar pé da situação, que é muito nova até para os professores”, explicou o professor Fabiano Biancucci Apolinário, organizador da aula de campo.

Além de Fabiano, também participaram da Expedição ao Rio Doce os professores Adriana Márcia Nicolau Korres, Bruno Furieri, Marco Aurélio Costa Caiado, Fábio Luiz Mação Campos, Jaqueline Bringhenti, Aurélio Azevedo Barreto Neto, Lucien Akabassi e Mércia Barcellos da Costa (do Departamento de Ciências Biológicas da Ufes). Ainda esta semana, o curso, com o apoio de seu Centro Acadêmico, lançará uma campanha de doação de água para ajudar os municípios do Estado que terão suas captações suspensas.

Roteiro da expedição
A primeira parada da turma foi em frente ao distrito de Itapina, em Colatina. Nesse ponto não houve coleta de água, apenas a observação da água que estava aparentemente limpa. A segunda parada aconteceu no reservatório da barragem de Aimorés, ainda de manhã, além de coletarem amostras da água, os alunos encontraram funcionários do Serviço Geológico do Brasil, empresa ligada ao Ministério de Minas e Energia, que realiza o monitoramento do Rio Doce.

A informação passada pelo engenheiro ambiental Fernando de Souza era de que a “cabeça da lama” estava a cerca de 13 km acima daquele ponto, e já era possível notar uma mancha amarelada na água no reservatório. Fernando explicou aos alunos como funcionava o monitoramento e quais tipos de equipamentos eram usados.

Após o almoço, a próxima parada foi no município mineiro de Resplendor, onde o Rio Doce já estava tomado pela lama de rejeitos de mineração. Os alunos puderam ver muitos peixes mortos e diversos animais se contaminando ao consumirem a água. Novamente, os estudantes puderam coletar amostras da água, e perceberam as condições ambientais naquele ponto do município.

A próxima parada aconteceu em um dos reservatórios da barragem de Aimorés, próximo a barragem da empresa. Recebidos pelo coordenador da empresa, Humberto Oliveira, os alunos presenciaram uma cena rara, que foi a passagem da água na barragem por diferença de densidade. “Poucos biólogos e engenheiros em todo o mundo já viram isso. Como a lama é mais pesada ela desce e passa pelas comportas, por isso há essa diferença nos dois lados”, explicou o representante da Usina de Aimorés.

De acordo com o professor Marco Aurélio Caiado, especialista em recursos hídricos, “a decisão empresarial de liberar a água de rejeitos trará um impacto muito maior para o Espírito Santo. Eles poderiam segurar a lama e liberar a água limpa, já que a Vale é a dona da Usina de Aimorés e também tem responsabilidade no desastre ambiental”, avaliou.

Ainda na usina, mas em outro ponto, os estudantes viram pescadores voluntários retirando peixes, que seriam depositados no Rio Manhuaçu, em uma tentativa de preservar as espécies. Naquele momento, o professor Fabiano Biancucci Apolinário fez uma reflexão com os alunos sobre as mudanças drásticas no ambiente.

“Aqui ainda estamos vendo animais vivos, mas vocês pararam para pensar quem em dias ou meses, tudo aqui pode estar morto? As condições do ambiente foram alteradas muito rapidamente com a introdução de muitos elementos químicos, alteração de PH. Como vai ser a vida da população a partir de agora?”, problematizou o professor.

O último ponto de parada foi em Colatina, onde a água – aparentemente limpa – também foi coletada para análise. A experiência foi avaliada como positiva tanto para alunos, quanto para professores.

“Percebemos o interesse a participação dos alunos. Para nós, professores, também foi muito positivo, cada um em sua área”, destacou a professora Adriana Márcia Nicolau Korres. “Foi excelente viver essa experiência, vamos entregar ao mercado profissionais mais completos, com visão crítica e sensibilidade para as questões sociais”, completou a professora Jaqueline Bringhenti.

As alunas Mônica Guimarães Venturin e Paloma Medeiros consideraram a experiência como única, pessoal e profissionalmente. “A situação do Rio Doce me entristeceu muito. Nosso ecossistema está morto. As pessoas precisam se conscientizar de que o progresso está trazendo prejuízos e que precisamos tomar uma atitude frente a isso”, disse Paloma. “Precisamos analisar as amostras para saber qual é a situação real e depois vamos pensar em como ajudar a sociedade. Eu aprendi muito”, contou Mônica Guimarães Venturin.

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