Professor resgata a História da Ciência no Brasil na abertura da Jornada de Integração
O físico Júlio Fabris abordou as complexidades do País e os desafios gerados pela exclusão social e inconstância nas políticas voltadas ao desenvolvimento científico.
O professor Júlio Fabris, do Departamento de Física da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), fez a palestra de abertura da Jornada de Integração do Ifes. O evento teve início nesta quinta-feira (17), no Campus Cariacica, com a presença de estudantes e servidores de diversos campi. Houve ainda transmissão on-line da cerimônia de abertura e da palestra do professor.
Com a proposta de fazer “Uma reflexão sobre a Ciência no Brasil”, Júlio Fabris resgatou a história do desenvolvimento científico no País, destacando pesquisadores proeminentes e marcos, como o surgimento das primeiras universidades e centros de pesquisa, além de agências de apoio como CNPq e Capes.
“O desenvolvimento acadêmico no Brasil é relativamente tardio”, contou o professor, destacando que o Peru inaugurou sua primeira universidade em 1551, em Lima. Na Argentina, a Universidade de Córdoba foi inaugurada em 1613. Apesar da imprecisão de datas, “o que se fala é que a universidade no Brasil surgiu em torno de 1920”, com uma instituição que seria a precursora da atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, relatou.
Em sua contextualização, Fabris também expôs sobre a influência do Positivismo na ciência e a sociedade brasileiras de forma geral. O Positivismo é uma corrente filosófica do século XIX que teve como um dos seus principais idealizadores Auguste Comte. “O Positivismo achava que a ciência conseguiria explicar tudo. E a partir daí tudo seria aplicação técnica do conhecimento. Esse pensamento marcou profundamente a formação dos primeiros cientistas, das elites, do Exército”, apontou.
“Isso deixou essa herança de que o conhecimento científico pudesse ser terminado. Essa visão estática não é boa para a ciência. Sempre que se responde uma pergunta em ciência, você gera outras perguntas”, destacou o professor, lembrando que houve contrapontos.
O matemático Amoroso Costa, da escola Politécnica do Rio de Janeiro, estabeleceu um combate contra essa visão positivista e foi um divulgador de ciência, no início do século XX. Amoroso escreveu um livro sobre a Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein, e frequentemente relatava sobre a ciência em artigos para jornais diários.
Henrique Morize, diretor do Observatório Nacional, foi outro nome de destaque da época, sendo parte inclusive da missão que viabilizou a viagem de Einstein a Sobral, no Ceará, em 1919, onde pôde observar um eclipse e comprovar sua teoria. “Entretanto, a ciência no Brasil era restrita e pouco povoada no início do século XX”, contou Fabris.
O cenário começou a mudar a partir da década de 1930, com a criação da USP, que trouxe diversos pesquisadores da Europa e dos Estados Unidos para iniciar grupos de pesquisa. “Isso mostra já a importância da internacionalização”, assinalou. A criação do CNPq, que é uma estrutura de financiamento de pesquisas, e da Capes, que fornece bolsas para formação de pessoas, no governo de Getúlio Vargas, também foi um marco da época.
Para Fabris, o Brasil caminhou muito desde então em termos de abertura de universidades, criação de cursos superiores, publicação de pesquisas, formação de pesquisadores, entre outros aspectos. Entretanto, há ainda dificuldades e contradições. “A gente vive de sobressaltos. As políticas do governo brasileiro mudam a todo momento, às vezes com períodos terríveis de vacas magras e às vezes euforias, com desperdício de recursos”, apontou. “Mais do que muito dinheiro num ano, precisamos de algo constante.”
“Também falta protagonismo ao Brasil, de assumir os primeiros passos, a liderança. O Brasil tem pesquisa de excelência, mesmo que ainda rarefeita. Nós deveríamos estar no primeiro plano”, afirmou, ressaltando as dimensões do Brasil, tanto territoriais quanto populacionais. Ele contou ainda que a proporção de cientistas per capita no País é relativamente baixa.
“Dois setores em que o Brasil se destaca: música e futebol. Essas são atividades que são feitas por toda a população, independente de classe social. Já a ciência continua, infelizmente, como uma atividade de elite. Esse apartheid social talvez seja a maior parte do nosso problema”, assinalou.
Veja como foi a abertura da Jornada de Integração do Ifes (confira a íntegra da palestra a partir do minuto 49).
Programação da Jornada
Nesta sexta (18), a Jornada de Integração do Ifes seguirá sendo realizada no Campus Cariacica, onde estão reunidos os trabalhos da Região Central - campi Cariacica, Centro-Serrano, Santa Teresa, Serra, Viana, Vila Velha e Vitória, além do Cefor. A programação inclui diversos minicursos e palestras.
Nos dias 21 e 22 de novembro será a vez da Região Sul, cuja sede é o Campus Piúma. No dia 21, haverá transmissão da palestra do diretor de Pesquisa do Ifes, Wanderson Romão, pelo canal do Ifes no YouTube. Ele falará sobre “A importância do Jovem Cientista Capixaba na Ciência Brasileira.
Na região Norte, a sede da Jornada de Integração será o Campus Nova Venécia. As atividades começam ainda no dia 22 de novembro, com mostras de trabalhos, inclusive da Feira de Ciências Norte Capixaba (Fecinc). O encerramento da Jornada – que contará também com a premiação da Fecinc – terá transmissão pelo YouTube do Ifes.
Acesse o site https://jornadadeintegracao.ifes.edu.br/.
Redes Sociais