Precisamos repactuar forma de trabalho 'adoecedora’, diz psicólogo Alexandre Coimbra
Em sua palestra, ele fez um importante alerta sobre a saúde mental.
Durante a palestra de abertura do Conexões Ifes, o psicólogo e escritor Alexandre Coimbra Amaral fez um importante alerta sobre a saúde mental. Para ele, a forma de lidarmos com o trabalho atualmente é “adoecedora”, por isso precisamos repactuar e desacelerar o ritmo. A fala foi voltada para o público presente no primeiro dia de evento, na noite desta quarta-feira (19) no Sesc Praia Formosa, em Aracruz. O Conexões Ifes prossegue até esta sexta-feira (21) com diversas palestras, mesas-redondas e atrações culturais.
Alexandre trabalhou quatro anos e meio no programa Encontro com Fátima Bernardes, da Rede Globo, e é autor de livros como “Toda Ansiedade Merece um Abraço” e o best seller “Cartas de um terapeuta para os seus momentos de crise”. Estudioso no assunto, ele falou da importância de valorizar os momentos de “vazios”, isto é, de silêncio e reflexão.
“A saúde mental é feita de vazios e de palavras. E hoje nós não conseguimos desacelerar. Ouvimos o áudio no ‘whatsapp’ no modo 2x porque não temos tempo de ouvir um áudio de um filho por um minuto, vejam o tamanho do desvão que caímos! Vivemos como o coelho da Alice, que tem pressa. Estamos mais acelerados porque precisamos dar conta de mais coisas no mesmo período de 24 horas”, destacou.
Ele lembra que há algumas décadas, quando um amigo gostaria de falar com outro amigo, ligava do telefone fixo, deixava recado e podia esperar a resposta no dia seguinte. Hoje, com cinco minutos de envio e visualização de mensagem pelo whatsapp, a pessoa já manda o texto “em caixa alta, isto é, gritando, aborrecida”, diz.
“É o pensamento paranoide, que a pessoa já acha que aconteceu alguma coisa (porque o outro não respondeu a mensagem), ele está com raiva, tem pensamento catastrófico. O whatsapp é uma metáfora da aceleração da vida”, destacou.
O especialista também destacou que perdemos a chamada ilusão da certeza. Que é, por exemplo, a crença de estudar e, consequentemente, ter um bom emprego e ainda de comer um ‘macarrão na casa da avó’, o que deixou de ser feito na pandemia, período que agravou de diversos modos a saúde mental das pessoas.
“Perdemos 700 mil pessoas na pandemia. Cada pessoa deixou pelo menos 20 outras pessoas próximas enlutadas. Ainda vivemos esse luto. Mas achamos por bem não falar dos nossos sentimentos. O luto é um tipo de experiência psíquica que demanda um tempo para que processemos o ocorrido. Para saber como vai ficar sem isso que perdeu, precisamos senti-lo”, argumentou.
Ele destaca que necessitamos reaprender a fazer acordos, por exemplo, de pactuar formas de ter momentos de lazer sem sermos interrompidos pelo trabalho mesmo aos finais de semana. “É um convite para a gente se reescrever, o jeito que estamos escrevendo nossa vida, estamos deixando de cantar o que vale a pena cantar. Falamos muito mais do trabalho do que da nossa vida para além do trabalho”, avaliou.
Alexandre iniciou a palestra fazendo uma homenagem ao compositor Chico Buarque, que fez 80 anos nesta quarta-feira (19). O psicólogo cantarolou trecho da música “Futuros Amantes”, que tem no refrão a frase “não se afobe não que nada é pra já”, que ele considerou adequada com sua palestra.
Antes da apresentação de Alexandre Coimbra, o Ifes Jazz Band, do Campus Cariacica, animou o público. O grupo fez os visitantes se levantarem, cantarem e dançarem ao som das músicas apresentadas. “É de mais momentos assim que precisamos”, comentou Alexandre durante a palestra, referindo-se à animação do público.
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