Palestra aborda o resgate e proteção da tradição do queijo da Serra da Canastra
Higor Freitas, da Associação de Produtores de Queijo Canastra, fez palestra no segundo dia do Encontro de Indicação Geográfica com a Rede Federal.
O economista Higor Freitas trouxe a história do queijo tradicional da Serra da Canastra (MG) para o segundo dia do Encontro de Indicação Geográfica com a Rede Federal, evento realizado no Ifes Campus Venda Nova do Imigrante entre 4 e 6 de setembro. Freitas é gerente-executivo na Associação dos Produtores de Queijo Canastra (Aprocan) e diretor administrativo-financeiro da Associação Brasileira de Indicações Geográficas (Abrig).
Em sua fala, ele traçou um panorama da história do queijo artesanal da região, destacando a importância do produto e os desafios enfrentados pelos produtores. Na época do Brasil Império, o queijo era extremamente valorizado, mas ao longo do tempo isso foi se perdendo. “Em 1950, cria-se a lei 1283, do regulamento industrial de inspeção sanitária de produtos de origem animal. Ela só reconhece alimentos agroindustriais, deixa os artesanais de fora. Isso cria um problema para uma classe inteira de produtores”, relata.
A desvalorização do produto artesanal leva, então, à desvalorização das próprias localidades onde era produzido, o que culmina a um grande período de êxodo rural. Porém, a partir da década de 1990, a criação da cooperativa de crédito Sicoob Sarom inicia um movimento de investimentos em educação e tecnologia que servem de ponto de partida para uma virada.
No ano 2000, com a criação de um convênio entre o Brasil e a França, a região da Canastra foi uma das escolhidas para receber um grupo de franceses, especialistas em produção, proteção e promoção de queijo. Eles fizeram visitas periódicas por vários anos para auxiliar na melhora da produção agroartesanal em Minas Gerais. A partir da percepção dos franceses sobre a qualidade do produto e a singularidade do território, os produtores atentaram para a necessidade de proteção da origem.
Com isso, foi criada a Aprocan, em 2005. A primeira conquista para a proteção da origem do queijo da Canastra foi dado em 2008, com o registro do modo de produção como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Iphan. A Indicação Geográfica veio em 2012. Em paralelo, a Aprocan buscou a contínua melhoria das condições de produção e da promoção do queijo.
Um das iniciativas de promoção é o trabalho junto às escolas da região, com a inclusão do queijo da Canastra em disciplinas como história, geografia e biologia. Uma disciplina também foi incluída na formação superior na Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha. Além disso, a participação em concursos internacionais e conquistas de medalhas conferiu destaque dentro e fora do Brasil para o produto. Agora, a Aprocan aguarda a resposta da Unesco à candidatura do queijo da Canastra como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
Com todo o sucesso, a proteção da marca e da origem do queijo Canastra seguem sendo desafiadoras. A Procan buscou meios para desenvolver um selo de autenticidade que não pudesse ser falsificado. Assim, em parceria com o Sebrae, investiu na criação de uma marca coletiva e na busca por um selo de caseína, que é como uma marca no próprio queijo, inserida na fase de produção. Os queijos são também numerados, e o consumidor consegue verificar no site da associação quem foi o produtor responsável e a data de fabricação.
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